Segunda-feira, 11 de setembro de 2023
Seja em que parte do mundo for, a comunicação e o marketing são elementos cruciais para o sucesso de qualquer empresa. No contexto atual de globalização, o desejo de expandir operações e conquistar novos mercados tornou-se uma realidade para muitas empresas, incluindo aquelas que ambicionam atravessar o Oceano Atlântico – do Brasil para a Europa. Então, qual o plano a seguir? E como uma boa estratégia de marketing pode ajudar?
A Europa é um continente que apresenta uma grande variedade de expressões culturais, linguísticas e institucionais. Esta diversidade é uma oportunidade para as empresas que desejam expandir os seus negócios para o velho continente. No entanto, antes de realizar esta transição, empresas e profissionais de marketing devem estar cientes dos desafios inerentes a este processo.
O Brasil é conhecido por uma diversidade étnica e cultural, refletida na culinária e tradições regionais, enquanto Portugal possui uma história milenar com influências que vão desde a cultura celta até à romana e árabe. Pode parecer contraditório, mas uma das principais diferenças entre Brasil e Portugal é precisamente a língua. Embora partilhemos a mesma base linguística, o português, as variações no vocabulário, diferença de pronúncia e gramática, são notáveis. Em Portugal, chamamos hospedeira de bordo, no Brasil, é aeromoça. No Brasil, Durex é fita adesiva, enquanto em Portugal é uma marca de preservativos (camisinha para os brasileiros). São exemplos bastante simples, mas que nos permite entender que se o discurso não for moldado à realidade do país, podem existir mal-entendidos que irão afetar a perceção da mensagem.
Além das diferenças culturais entre países, é obvio que fatores económicos devem ser tidos em consideração. O poder de compra e o comportamento do cliente podem variar significativamente entre América Latina e Europa. O mercado brasileiro possui uma orientação forte para o negócio, refletindo a influência da cultura dos Estados Unidos. Procura conveniência, preços competitivos e valoriza marcas reconhecidas, mas também está aberto a produtos de marcas mais pequenas e inclinados a compras mais impulsivas. Existe uma grande enfase na relação custo-benefício, na compra “parcelada” e a crédito.
Em Portugal, o mercado é mais tradicional, focado na qualidade, tradição e marcas estabelecidas. As decisões de compra são mais ponderadas, com preferência por pagamento em dinheiro ou débito. A confiança a longo prazo é central nas relações comerciais, refletindo a cultura europeia.
Se o que funciona bem no Brasil pode não ter a mesma eficácia na Argentina, o mesmo se aplica a países com um oceano de distância. As empresas devem ser cuidadosas e as estratégias de marketing devem ser adaptadas para refletir as diferenças culturais, linguísticas e comportamentais específicas de cada país europeu. É necessário ter uma compreensão aprofundada do público-alvo, das suas preferências e saber abordar as “sensibilidades culturais”. Por isso, as campanhas têm de ter em consideração a persona que se quer alcançar, desafios de negócio e que canais de comunicação vão ser utilizados.
Então, como devemos construir a base? Começar por estudar a maturidade do mercado com uma pesquisa minuciosa. Os estudos de mercado são uma ferramenta essencial para entender as particularidades de cada mercado e ajustar a mensagem e os canais de comunicação de acordo. Trata-se de investir tempo e recursos em pesquisas que permitem às empresas obter insights valiosos sobre as preferências e necessidades dos clientes em cada país, possibilitando a criação de campanhas straight to the point.
Uma análise tributária eficiente também é fundamental para garantir a viabilidade financeira de qualquer empresa. Ao entender as regulamentações fiscais em Portugal e na Europa, as empresas podem otimizar as suas operações, reduzir custos e mitigar riscos.
Em seguida, procurar feedback de pessoas e empresas locais deve ser uma opção. Ao apoiar-se de uma agência de comunicação e marketing do próprio país, a empresa não beneficia apenas do seu expertise, mas também da sua rede de contactos. O mesmo se aplica a apoio de empresas locais na área jurídica ou de contabilidade. São estes parceiros que vão ajudar a evitar as tais “armadilhas culturais” e a compreender melhor como trabalhar com as sensibilidades locais. As agências podem, igualmente, auxiliar na identificação de oportunidades de negócios e parcerias estratégicas para cada região.
A expansão de negócios para mercados internacionais tem os seus obstáculos naturais como diferenças culturais, regulamentações complexas, concorrência local, logística e custos. No entanto, também oferece oportunidades como acesso a novos mercados, diversificação de clientes, estímulo à inovação, parcerias estratégicas e reconhecimento global da marca. É importante que as empresas não se deixem levar por preconceitos culturais, que se ajustem às preferências do público-alvo e direcionem a sua mensagem.
Apenas através de uma abordagem cuidadosa e bem planeada as empresas podem superar os desafios transatlânticos e qualquer plano de expansão deve ter a comunicação e o marketing como prioridade. Através de uma mensagem consistente e coerente, a empresa cria notoriedade e brand awareness, elementos essenciais para conquistar a confiança dos clientes. No fundo, o plano é simples: dançar conforme a música local para mais tarde colher frutos. Não é por acaso que a frase de Drucker tão bem se aplica aos processos de internacionalização das empresas: a cultura come a estratégia ao pequeno-almoço.
Sócia fundadora e CEO da Martech Digital, acumula mais de 18 anos de experiência em Marketing, Comunicação e Vendas para o setor das Tecnologias, mercado B2B. Contribuiu para o desenvolvimento da área de Marketing e Comunicação de mais de 150 empresas nacionais e internacionais. Licenciada em Informática de Gestão e com formação executiva em Liderança pela Universidade Católica de Lisboa, é mestranda em Gestão de Marketing no IPAM Lisboa e Facilitadora LEGO® SERIOUS PLAY®.
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