Quarta-feira, 05 de fevereiro de 2020
No mês de janeiro de 2020, o Fórum Económico Mundial (WEF) apresentou, na sua habitual reunião em Davos, um relatório de elevada importância estratégica pessoal e empresarial: “Empregos de Amanhã: mapear oportunidades na Nova Economia” . Há várias análises que se retiram deste relatório e outras que podemos começar a extrapolar.
Uma das primeiras extrapolações que começa a ser evidente é que, depois do “susto” do desaparecimento de empregos na 4ª Revolução Industrial, à semelhança do que ocorreu em anteriores Revoluções Industriais, começa a ser evidente o aparecimento de novos tipos de emprego que irão equilibrar os existentes.
Está na capacidade de ter profissionais qualificados para as exigências dos novos empregos. Isto é, estaremos perante desafios de (re)qualificação de competências e agilidade de adaptação a novas exigências e novos cenários de negócio.
Importa enquadrar que neste relatório foram identificadas 96 profissões agrupadas em 7 clusters: Economia da Saúde, Dados e Inteligência Artificial, Engenharia e Cloud Computing, Economia Verde, Pessoas e Cultura, Desenvolvimento de Produtos, Vendas + Marketing + Conteúdo.
Este relatório deve ser lido, e entendido, mais do que uma simples listagem de profissões de futuro. Deve ser analisado também com uma perspetiva crítica empresarial de estratégia e tendências de futuro, nas quais destaco as seguintes análises: a confirmação da exigência tecnológica como base essencial da competitividade, o aparecimento da produção de conteúdos como motor de marketing e vendas, a essencialidade do fator competências comportamentais, na relação de grupo e com a comunidade.
Neste sentido, e começando pela confirmação da exigência tecnológica, não sendo uma novidade, é na realidade já um facto reconhecido por todos. E quem ainda tenha dúvidas do impacto que a tecnologia tem na eficiência pessoal, profissional e empresarial, estará certamente desenquadrado da realidade. Neste relatório, mesmo aqueles clusters de profissões que aparentemente nada têm a ver com a tecnologia, todas têm ou competências ou profissões específicas tecnológicas. A título de exemplo, no Cluster da Economia Verde os Sistemas de Informação Geográfica são a referência ou no Cluster de Pessoas e Cultura a necessidade de profissionais em Analítica de Dados são uma das principais inovações.
Este relatório traz-nos a “novidade” do reconhecimento público de que para vender, ou desenvolver projetos de marketing, é essencial a produção de conteúdos. Isto é, começa a ser entendido que as empresas, para estarem efetivamente presentes no mundo digital, necessitam de começar a estruturar Estratégias de Conteúdos capazes de suportar e potenciar as vendas e o marketing. Isto é, já não podemos ser só bons vendedores ou só bons marketeers, precisamos ser também bons no produzir e colocar os conteúdos adequados no canal certo e à hora certa.
Por fim, e subjacente a grande parte das competências profissionais identificadas no relatório, estão as competências interpessoais e de gestão. As chamadas soft skills identificadas são a liderança, a capacidade de ensinar e aprender, a criatividade, a capacidade de abstração e resolução de problemas e o cuidar do outro. Estes são destaques explícitos e implícitos, de uma forma quase transversal, a todos os Clusters de profissões de futuro identificadas no relatório.
Em jeito de conclusão, e pegando no título deste artigo, o mundo digital tende a automatizar-se. Os humanos tendem a ter muito mais capacidades (maior produtividade) se potenciarem a seu favor as tecnologias. Os níveis de exigência e de avaliação serão também mais elevados e ser um bom técnico já não é suficiente!
Deste relatório retiro que o profissional do futuro se caracteriza como um profissional com um elevado grau de competências técnicas digitais, independente do setor de atividade ou da função que exerce, à qual tem de aliar obrigatoriamente capacidades de gestão individuais e de grupo, bem como saber estar, saber relacionar e saber resolver.
O profissional de futuro é um Humano Digital!
Com mais de 20 anos de experiência profissional é atualmente Diretor Geral da IPTelecom, tendo anteriormente sido Diretor Comercial e Desenvolvimento de Negócio da Infraestruturas de Portugal S.A., Diretor de Sistemas de Informação na EP – Estradas de Portugal S.A. e Professional Services Manager da Sybase Inc. em Portugal. A nível universitário é Diretor Executivo da LISS – Lusofona Information Systems School, Diretor da ESCAD – Escola Superior de Ciências de Administração do IP Luso, Diretor da licenciatura em Informática de Gestão da ULHT e Docente da ULHT. Licenciado em Engenharia Informática pelo IST, MBA na Universidade Católica Portuguesa e DBA – Doctor in Business Administration no ISCTE/IUL com a Tese “Business Models for Open Source Software Vendors”.
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